segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Agenda do setor produtivo ainda não incorporou a inovação, afirma Antoniazzi.

Apesar de ter entrado definitivamente na agenda de governo brasileiro, a cultura da inovação – imprescindível para garantir a competitividade no mercado - ainda não está totalmente impregnada no setor produtivo. A preocupação é do vice-presidente da ABIPTI pela região Sul e presidente da Fundação de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (Cientec), o engenheiro Luiz Antonio Antoniazzi.

Os investimentos em inovação no Brasil são crescentes, porém muito tímidos e aquém da sua necessidade, destaca Antoniazzi. O país possui o 11° parque industrial do mundo e o 7° Produto Interno Bruto (PIB) do planeta. No entanto, ocupa o 47° lugar no ranking da inovação tecnológica. O setor industrial investe cerca de 0,50 % do PIB Nacional, pouco ao considerar a Coreia do Sul, que investe 2,46 %; o Japão, 2,68 %; e os Estados Unidos da América (EUA), com 1,86%.

No Brasil, informa, quem mais investe é o Estado (0,57 % do PIB, incluindo os investimentos da Petrobras). Somente 2,7% da empresas brasileiras inovam e diferenciam seus produtos, entre 70 mil indústrias pesquisadas. Destas, em média, os investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) são de 0,7% do seu faturamento.

Na opinião de Antoniazzi, as empresas devem destinar, no mínimo, um percentual de 5% do faturamento para investir em PD&I de acordo com o seu perfil (alta, média alta, média baixa ou baixa tecnologia). Além disso, o setor industrial tem que ser mais ousado e usufruir dos produtos e processos gerados pelas entidades de pesquisa, desenvolvimento e inovação (EPDIs). “Ainda é comum que empresa e indústria desenvolvam tecnologias isoladamente, sem o aproveitamento do conhecimento e da infraestrutura existentes em universidades, centros de pesquisas e institutos tecnológicos”.

Legislação

Com a promulgação da Lei da Inovação, a expectativa é facilitar a interação com o setor produtivo. Porém, as EPDIs ainda são muito burocratizadas e não possuem a agilidade esperada. Os entraves burocráticos causados pela Lei 8.666/93 têm sido o principal obstáculo para a pesquisa científica e tecnológica no país, uma vez que a legislação é anacrônica. “As regras colocam a pesquisa e a inovação como um produto na prateleira de um supermercado”, analisa.

Um novo código de ciência e tecnologia, acredita Antoniazzi, poderá reduzir a burocracia, mas é fundamental ter uma nova postura em relação à inovação tecnológica com a difusão de uma cultura de inovação, como tem ocorrido na Coreia do Sul nos últimos anos. “Sem recursos humanos capacitados não se faz pesquisa científica e nem tecnológica”.

Hoje, enumera, são formados no Brasil aproximadamente 47,1 mil engenheiros por ano, o que equivale a 1,95/10 mil habitantes. Na China são 13,4 e, na Coreia do Sul, 16,4. E não é por falta de vagas nas universidades - em 2008 foram oferecidas 249 mil no Brasil, mas foram preenchidas apenas 147 mil.

Commodities

Além disso, completa Antoniazzi, o Brasil é um país exportador de commodities e importador de tecnologia, uma incômoda realidade que vem desde o Brasil Colônia e que precisa mudar. O déficit tecnológico brasileiro é assustador se for levado em conta que no primeiro trimestre deste ano atingiu U$ 49.765 bilhões. A falta de uma política industrial fragilizou o processo da inovação ao longo das últimas décadas. “Este cenário não mudará enquanto o país copiar e reproduzir a tecnologia do concorrente sem agregar valor”, destaca.

Para reverter o quadro, reforça o vice-presidente da ABIPTI, é necessário que todas as organizações envolvam seus setores com uma gestão voltada para a inovação. “O crescimento da indústria nacional, seja micro, pequena, média ou grande, deve acontecer por meio de investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação. Esta não acontece necessariamente com a introdução no mercado de novos produtos, mas também com melhorias que, ainda assim, caracterizam o produto ou processo como inovador”, lembra.

A melhor tecnologia não garante necessariamente uma inovação de sucesso no mercado, ressalta. O primeiro aspecto se dá no ambiente em que uma organização está inserida, levando-se em conta as características de sua cadeia produtiva, políticas governamentais de apoio e a intensidade da competição no mercado em que atua, entre outros pontos, como o organizacional e o tecnológico.

Petrobras

Há exemplos de grandes corporações que não avaliaram este contexto, lembra ele, como a Sony, que nos anos 1980 lançou o videocassete Betamax e, mais recentemente, a Toshiba, ao lançar o vídeo de alta definição, que perdeu espaço para o Blu-Ray, amargando um prejuízo de mais de U$ 2 bilhões.

Para Antoniazzi, a Petrobras é o exemplo mais emblemático que sintetiza tudo o que foi dito. Na cadeia do petróleo, gás, indústria naval e oceânica, a inovação está presente de forma contínua e consistente. “A atuação do Centro de Pesquisas Leopoldo Américo Miguel de Mello (Cenpes), unidade da Petrobras responsável pelas atividades de P&D e engenharia, somada à interação com universidades e instituições tecnológicas de todo o país, com pesados investimentos em pesquisa, deram à Petrobras o diferencial necessário para o alcance da competitividade internacional”.

Com uma política bem sucedida de implementar conteúdo local nas aquisições, completa Antoniazzi, a empresa passou a fomentar a inovação em toda a cadeia de fornecedores, além de disponibilizar suas patentes a eles. “Em 2011, a Petrobras investirá algo em torno de U$ 1.25 bilhão em pesquisa e desenvolvimento”, finaliza.

Fonte: http://www.abipti.org.br - por Cristiane Rosa

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