Qual é o futuro das agências de fomento a inovação no Brasil?
Representantes de entidades falam sobre os recentes cortes de orçamento e propõem saídas
esde o início do mês, especialistas do setor de pesquisa, desenvolvimento e inovação têm se abalado com a sequência de notícias envolvendo os possíveis cortes no orçamento de agências públicas de fomento como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e a Financiadora de Inovação e Pesquisa (Finep).
No que se espera, os cortes da Capes devem atingir diretamente ao menos 200 mil bolsistas a partir de agosto de 2019. Já o orçamento do CNPq deve diminuir em um terço, caindo de R$ 1,2 bilhão em 2018 para R$ 800 milhões do ano que vem.
Na Finep, o caso não é melhor: a proposta orçamentária para 2019 prevê R$ 746 milhões para financiamentos não reembolsáveis, recursos destinados ao suporte da pesquisa científica em instituições públicas. O valor é 35% a menos do que o previsto no orçamento deste ano, de R$ 1,15 bilhão.
Para Rodrigo Fonseca, gerente do departamento de projetos estruturantes da Finep, esse é só o começo. “A quantidade de dinheiro das agências que hoje estão no ‘mapa da inovação’ vai ser cada vez menor. E isso vai perdurar por muitos anos.”
Fonseca diz que quando a greve dos caminhoneiros estourou, ele não teve dúvidas de que o setor de ciência, tecnologia e inovação seria um dos maiores prejudicados. “Estava na cara que seríamos prejudicados”, afirmou o executivo durante a Conferência de Inovação Anpei 2018, evento que acontece em Gramado, no Rio Grande do Sul.
Fonseca se apresentou durante o evento para falar sobre o futuro do investimento em inovação, ao lado de Odir Dellagostin, professor da UFPel e diretor da agência de fomento Fapergs, e Cláudio Leal, superintendente da área de fomento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Apesar do mau momento, Fonseca vê a situação como uma oportunidade para as agências encontrarem novas alternativas.
“Na Finep percebemos que era hora de repensar os modelos. Acho que o nosso papel no fim das contas pode ser muito maior do que financiar e investir. Temos condição para oferecer à sociedade produtos e estratégias mais completos dessa cadeia.”
Ele defende a criação de produtos “híbridos”, fomentando inovação por meio de iniciativas financeiras e não financeiras. Entre as que não envolvem o investimento, estão soluções no campo da inteligência tecnológica, cooperação internacional e nacional e plataformas de cooperação para inovação. “Temos que pensar em outros em novos produtos como parcerias e prêmios.”
Para Dellagostin, a situação do Brasil é preocupante – somente 1,2% do PIB brasileiro é investido em pesquisa, desenvolvimento e inovação. “Precisamos de fomento. A inovação é o motor para alavancar a produtividade, gerar novas oportunidades de negócio e crescer economicamente.”
Por isso, defende que as instituições se reúnam pelo retorno do investimento nas agências. “O setor privado é importante, sim, mas precisamos de financiamento público. Nesses momentos de dificuldade, o alinhamento entre as agências é fundamental. ”
Enquanto isso não acontece, o professor defende que mais doutores entrem de cabeça no ecossistema de inovação. Na sua opinião, faltam doutores empreendedores no Brasil. “Precisamos de mais. Foi-se o tempo em que a academia absorvia 100% dos doutores. O mercado mudou e estamos formando doutores sem perspectiva de trabalho. É necessário incentivá-los a criar startups que acelerem o processo de inovação no país como um todo.” Do lado do BNDES, tradicionalmente investidora de projetos maiores, Leal afirma que o banco tem trabalhado para se reinventar em prol de projetos menores que envolvam inovação. “Quando falamos nesses negócios, não podemos esperar uma decisão de crédito convencional. É muito lenta”, afirma.
Para isso, o executivo afirma que a estatal está desenvolvendo iniciativas para projetos voltados para digitalização e fintechs. “Se não pensarmos em alternativas que articulem melhor a relação entre as empresas e as instituições de fomento, nosso país vai diminuir a efetividade e gerar menos riqueza.”
Fonte:https://epocanegocios.globo.com - 15/08/2018 - 18H45 - ATUALIZADA ÀS 18H45 - POR RENNAN ARAUJO JULIO
Representantes de entidades falam sobre os recentes cortes de orçamento e propõem saídas
esde o início do mês, especialistas do setor de pesquisa, desenvolvimento e inovação têm se abalado com a sequência de notícias envolvendo os possíveis cortes no orçamento de agências públicas de fomento como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e a Financiadora de Inovação e Pesquisa (Finep).
No que se espera, os cortes da Capes devem atingir diretamente ao menos 200 mil bolsistas a partir de agosto de 2019. Já o orçamento do CNPq deve diminuir em um terço, caindo de R$ 1,2 bilhão em 2018 para R$ 800 milhões do ano que vem.
Na Finep, o caso não é melhor: a proposta orçamentária para 2019 prevê R$ 746 milhões para financiamentos não reembolsáveis, recursos destinados ao suporte da pesquisa científica em instituições públicas. O valor é 35% a menos do que o previsto no orçamento deste ano, de R$ 1,15 bilhão.
Para Rodrigo Fonseca, gerente do departamento de projetos estruturantes da Finep, esse é só o começo. “A quantidade de dinheiro das agências que hoje estão no ‘mapa da inovação’ vai ser cada vez menor. E isso vai perdurar por muitos anos.”
Fonseca diz que quando a greve dos caminhoneiros estourou, ele não teve dúvidas de que o setor de ciência, tecnologia e inovação seria um dos maiores prejudicados. “Estava na cara que seríamos prejudicados”, afirmou o executivo durante a Conferência de Inovação Anpei 2018, evento que acontece em Gramado, no Rio Grande do Sul.
Fonseca se apresentou durante o evento para falar sobre o futuro do investimento em inovação, ao lado de Odir Dellagostin, professor da UFPel e diretor da agência de fomento Fapergs, e Cláudio Leal, superintendente da área de fomento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Apesar do mau momento, Fonseca vê a situação como uma oportunidade para as agências encontrarem novas alternativas.
“Na Finep percebemos que era hora de repensar os modelos. Acho que o nosso papel no fim das contas pode ser muito maior do que financiar e investir. Temos condição para oferecer à sociedade produtos e estratégias mais completos dessa cadeia.”
Ele defende a criação de produtos “híbridos”, fomentando inovação por meio de iniciativas financeiras e não financeiras. Entre as que não envolvem o investimento, estão soluções no campo da inteligência tecnológica, cooperação internacional e nacional e plataformas de cooperação para inovação. “Temos que pensar em outros em novos produtos como parcerias e prêmios.”
Para Dellagostin, a situação do Brasil é preocupante – somente 1,2% do PIB brasileiro é investido em pesquisa, desenvolvimento e inovação. “Precisamos de fomento. A inovação é o motor para alavancar a produtividade, gerar novas oportunidades de negócio e crescer economicamente.”
Por isso, defende que as instituições se reúnam pelo retorno do investimento nas agências. “O setor privado é importante, sim, mas precisamos de financiamento público. Nesses momentos de dificuldade, o alinhamento entre as agências é fundamental. ”
Enquanto isso não acontece, o professor defende que mais doutores entrem de cabeça no ecossistema de inovação. Na sua opinião, faltam doutores empreendedores no Brasil. “Precisamos de mais. Foi-se o tempo em que a academia absorvia 100% dos doutores. O mercado mudou e estamos formando doutores sem perspectiva de trabalho. É necessário incentivá-los a criar startups que acelerem o processo de inovação no país como um todo.” Do lado do BNDES, tradicionalmente investidora de projetos maiores, Leal afirma que o banco tem trabalhado para se reinventar em prol de projetos menores que envolvam inovação. “Quando falamos nesses negócios, não podemos esperar uma decisão de crédito convencional. É muito lenta”, afirma.
Para isso, o executivo afirma que a estatal está desenvolvendo iniciativas para projetos voltados para digitalização e fintechs. “Se não pensarmos em alternativas que articulem melhor a relação entre as empresas e as instituições de fomento, nosso país vai diminuir a efetividade e gerar menos riqueza.”
Fonte:https://epocanegocios.globo.com - 15/08/2018 - 18H45 - ATUALIZADA ÀS 18H45 - POR RENNAN ARAUJO JULIO