segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Finep muda subvenção e lança edital de R$ 190 mi para inovação em pequenas empresas

Novos editais deverão contemplar setores como exploração do pré-sal, saúde e biotecnologia

A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) está modificando seus instrumentos de estímulo à inovação tecnológica por meio da subvenção econômica com o lançamento de editais setorizados. Uma das primeiras iniciativas da empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) nesses moldes é o Programa de Apoio à Inovação Tecnológica em Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Tecnova), lançado no final de setembro, que prevê a destinação de R$ 190 milhões para firmas com faturamento bruto anual de até R$ 3,6 milhões.

Esse montante faz parte de um total de R$ 1,2 bilhão anunciado na semana passada pelo ministro Marco Antonio Raupp (MCTI) para o fomento à inovação tecnológica de pequenas e médias empresas (PME) com liberação prevista até 2014, o que representa cerca de R$ 400 milhões por ano. O edital da Tecnova é o primeiro de uma série de programas de subvenção econômica divididos por setor, que serão lançados em 2013, contemplando outras cadeias produtivas, como, por exemplo, as de exploração da camada do pré-sal, de saúde, de biotecnologia e de defesa.

Foco em segmentos inovadores

Depois de cinco editais nacionais de subvenção econômica lançados entre 2006 e 2010, a Finep identificou a necessidade de mudança no formato desse instrumento — voltado à aplicação de recursos públicos não reembolsáveis diretamente em empresas inovadoras, compartilhando custos e riscos. "Percebemos que é mais importante agora alocar os recursos de subvenção de forma mais focada e estruturada em segmentos que precisam realmente desenvolver a inovação", afirmou Marcelo Camargo, chefe do Departamento de Operações de Subvenção da Finep, em entrevista a Inovação Unicamp. "Por meio dessa divisão setorial, temos a possibilidade de alocar os recursos de maneira mais eficiente e mais específica."

Com isso, outros programas de subvenção não devem ser reeditados, como Primeira Empresa Inovadora (Prime), Programa de Apoio à Pesquisa em Empresas na Modalidade Subvenção a Micro e Pequenas Empresas (PAPPE Subvenção) e Programa de Subvenção à Pesquisa em Microempresas e Empresas de Pequeno Porte nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste (PAPPE Integração).

Gestão descentralizada

Outra novidade da agência é a opção pela descentralização da gestão do programa entre entidades locais. Para promover esse repasse de R$ 190 milhões do Tecnova, a Finep lançou uma carta convite com o objetivo de firmar parcerias nos Estados com instituições que promovam a escolha das empresas por meio de editais e façam a distribuição dos recursos. A ideia é descentralizar as ações e aumentar a capilaridade do programa de concessão de subvenção.

As empresas contempladas pelos parceiros estaduais terão até dois anos para executar os projetos de inovação tecnológica. O valor da subvenção às empresas, com recursos da Finep e mediante contrapartida das firmas, será entre R$ 120 mil e R$ 400 mil. A meta do programa é de contratar 800 empresas para o desenvolvimento de produtos ou processos inovadores. "Ao descentralizar, nós conseguimos ter um acesso a esse conjunto de empresas de forma mais eficiente, o que será feito pelas entidades locais. Acreditamos que esse número de empresas da meta é expressivo, comparando com o estoque que temos de cinco anos dos últimos editais da Finep", explicou Camargo.

Divisão por segmentos estratégicos

A alocação dos recursos do Tecnova deverá ser feita na proporção de 40% para projetos das áreas de petróleo e gás, energias alternativas e tecnologia da informação e comunicação (TIC), áreas prioritárias do Plano Brasil Maior e da Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação do MCTI; e de 60% para outros cinco temas de interesse estratégico local, de acordo com a política de inovação de cada Estado.

Para auxiliar na capacitação e gestão das empresas, o edital prevê mais R$ 50 milhões em ação conjunta com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Até o início de novembro, a Finep estima já ter definido com o Sebrae quais produtos poderão ser oferecidos às empresas selecionadas que precisem de ajuda na gestão. Esse apoio deverá ser prestado em até 18 meses após a contratação das PME. A Financiadora também vai destinar uma verba adicional de R$ 19 milhões, proveniente da Ação Transversal do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), para estruturação, administração e consolidação dos agentes estaduais que coordenação os processos.

Balanço da subvenção

Os cinco editais nacionais de subvenção econômica lançados até 2010 atenderam 800 empresas de todos os portes, sendo 74% delas (aproximadamente 600 firmas) micro ou pequenas. Dos cerca de R$ 1,5 bilhão disponibilizado nesses cinco editais, 60% (quase R$ 1 bilhão) foram destinados às PME, de acordo com balanço da Finep. A maior parte desses projetos foi das áreas de serviços de tecnologia da informação e fabricação de produtos de informática, eletrônicos e ópticos.

Fonte: http://www.inovacao.unicamp.br - Por Guilherme Gorgulho - da FINEP - 22/10/2012

domingo, 28 de outubro de 2012

MCTI anuncia subvenção de R$ 70 mi para TICs

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) lança, nos próximos dias, edital de subvenção econômica de TICs no valor de R$ 70 milhões. Parte desses recursos será destinada ao desenvolvimento de soluções visando a segurança da internet.

O anúncio foi feito nesta quarta-feira (24) pelo coordenador-geral de Serviços e Programas de Computador, Rafael Moreira, durante o III Seminário de defesa Cibernética, promovido pelo Ministério da Defesa em Brasília. Segundo ele, o mercado de segurança na web, que em 2010 movimentou US$ 5 bilhões, chegará a US$ 80 bilhões em 2014.

Moreira disse também que o edital está em consonância com a estratégia de defesa nacional para as áreas de cibernética, espacial e nuclear. Por meio desse programa, já foi criado o Centro de Defesa cibernética (CDCiber) e produtos, como o desenvolvimento de um antivírus nacional, que começará a ser distribuído em janeiro de 2013 (versão 1.0); um simulador de defesa, que começará a ser usado no próximo mês; e um filtro de monitoramento da web, já testado com sucesso durante a Rio+20.

Todos os produtos estão sendo desenvolvidos por empresas nacionais, com cláusula que impede suas vendas para companhia estrangeiras. “É um mercado ainda incipiente e que precisa ser incentivado”, disse o ministro da Defesa, Celso Amorim.

Fonte: Escrito por Lúcia Berbert - Publicado em Quarta, 24 Outubro 2012 no www. telesintese.com.b

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Financiamento de R$ 1,2 bi para PME sai até dezembro, promete ministro

Recursos fazem parte do edital de subvenção econômica da Finep destinado a projetos de inovação em TI.

O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Marco Antonio Raupp, anunciou a retomada da Subvenção Econômica para micro, pequenas e médias empresas (PMEs) de tecnologia. Segundo ele, o orçamento total para o financiamento de inovação nessa modalidade é de 1,2 bilhão de reais, até 2014.

“Isso significa algo em torno de 400 milhões de reais por ano, só para as pequenas e médias empresas de tecnologia que serão beneficiadas”, explicou, acrescentando que os editais de lançamento do programa serão anunciados até o final deste ano já com orçamento aprovado.

O programa de subvenção econômica, desenvolvido pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) – agência vinculada ao MCTI –, estava desativado desde 2010.

“Estamos retomando o programa da Finep dentro dos mesmos padrões. O governo tem que financiar o risco para que as PME, através da subvenção econômica, possam desenvolver suas iniciativas inovadoras e colocar novos produtos no mercado”, disse Raupp.

“Com essa modalidade é mais fácil incluir as pequenas empresas. Como é um recurso para o desenvolvimento de produto, então precisa ser distribuído rigorosamente dentro dos critérios dos editais públicos”, comentou Raupp.

Inovação Durante a Exposição e Conferência de Inovação e Empreendedorismo de Base Tecnológica (Expocietec), realizada em São Paulo, Raupp enfatizou em sua palestra que a inclusão da inovação ao escopo do ministério é definitiva.

“Apesar de a ciência e a tecnologia serem atividades transversais de importância geral, recebiam um tratamento setorial. O Plano Brasil Maior inclui a inovação por entender que MCTI tem um papel dentro da política de desenvolvimento econômica do país”, comentou.

Raupp lembrou ainda que, embora o banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) seja o financiador tradicional dos grandes projetos de desenvolvimento industrial, a responsabilidade do financiamento da inovação, por suas necessidades, vem recaindo sobre o MCTI.

“Financiar a inovação tem características especiais que necessitam de estruturas diferenciadas. O BNDES nem sempre tem essa estrutura, por ser dedicado aos projetos de grande porte. Então, a Finep tem criado uma estrutura mais adaptada ao financiamento para micro, pequenas e médias empresas. Tem focado o financiamento desse tipo de projeto de inovação”, relatou.

O ministro reconheceu a importância das empresas geradas no ambiente tecnológico para o País. “São instituições com alunos e técnicos altamente qualificados e imbuídos do empreendedorismo”, concluiu.

Fonte: Da redação - http://computerworld.uol.com.br - *Com informações da agência MCTI

domingo, 21 de outubro de 2012

TI Maior: governo oficializa programa de apoio a empresas nascentes

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) publicou no dia 15 de outubro, no Diário Oficial da União, a portaria que institui programa de apoio a empresas iniciantes de produção de software e de serviços de tecnologia da informação, um dos pilares do programa TI Maior, lançado em 20 de agosto.

O programa, chamado de “Start-Up Brasil”, tem por objetivos “fortalecer os setores científico, tecnológico e econômico do País, (…) em especial o de software e serviços de tecnologias da informação”. De acordo com o texto oficial, o programa quer estimular “por meio do empreendedorismo, a ampliação da base tecnológica, a consolidação de ecossistemas digitais e o surgimento de um ambiente favorável a pesquisa, desenvolvimento e inovação”.

Dos R$ 550 milhões previstos para o TI Maior, cerca de R$ 40 milhões serão dedicados ao programa de start ups. A meta do governo é escolher quatro aceleradoras – cada uma delas com meta de “abrigar” de oito a 10 startups. O objetivo é acelerar 150 start ups até 2015, direcionadas para o chamado ‘ecossistema digital’, que envolve cadeias de valor consideradas estratégicas na economia – entre eles, petróleo e gás, aeroespacial, telecomunicações, mineração e agricultura, ou ainda educação e saúde, que podem apontar suas necessidades, muitos deles atualmente supridos predominantemente por fornecedores internacionais.

A portaria pode ser lida na íntegra no link http://www.in.gov.br/visualiza/index.jsp?jornal=1&pagina=8&data=15/10/2012.

Fonte: http://www.anpei.org.br

sábado, 20 de outubro de 2012

"O problema do Brasil é sempre olhar o próprio quintal"

Professor titular de engenharia de software da Universidade Federal de Pernambuco, com doutorado em computação pela University of Kent at Canterbury, na Inglaterra, o paraibano Silvio Meira é um homem ligado no futuro.

Um pensador preocupado com as conexões entre economia, história, inovação e cultura. Foi com essa mentalidade que ele ajudou a fundar, no ano 2000, o Porto Digital, um polo tecnológico situado no centro antigo do Recife, que concentra cerca de 100 empresas de tecnologia. Sua atuação no Porto, cujo conselho preside, se dá também por meio do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (C.E.S.A.R.), um núcleo privado de inovação que desenvolve projetos para empresas como Samsung, Motorola e Siemens. Nesta entrevista, Meira aponta aquilo que, a seu ver, o País deveria fazer para ocupar um lugar de protagonista na economia internacional. “O Brasil é grande demais para viver só de commodities”, diz. “Uma boa visão é definir, como meta, nos próximos 25 anos, ser um dos cinco maiores produtores de software.”

DINHEIRO – O ciclo de vida dos produtos de tecnologia é muito curto. Essa dinâmica não faz a indústria investir milhões em uma série de recursos inúteis? SILVIO MEIRA – A alucinação coletiva pela novidade é parte da humanidade desde que nos entendemos por gente. A história das facas e das espadas, que tem milhares de anos, é uma coleção de invenções malucas. Num cenário de aplicação do conhecimento, sempre haverá o que se pode chamar de combinação de curiosidade com confiança humana. Curiosidade sobre o que fazer aliada à confiança de que é possível tornar aquilo realidade. Agora, pense num mundo em que posso mandar fabricar quase qualquer coisa, bastando para isso ter os meios, como temos hoje. Isso nunca aconteceu antes.

DINHEIRO – Como isso se aplica ao mercado de tecnologia? MEIRA – Especificamente, no que se refere às plataformas digitais, é preciso observar que elas são muito padronizadas. Se quisermos mandar produzir um tablet na China com três câmeras na frente e uma atrás, nós fazemos. E fazemos com a qualidade que desejarmos, pelo preço que quisermos. Então, a padronização dos componentes para baixo elevou a expectativa para cima, pois é possível fazer praticamente qualquer coisa em qualquer lugar. Essa dinâmica proporciona a criação, por exemplo, de uma câmera com a qual posso fazer um chat. Ou um aspirador robotizado que faz não sei o quê, um software no seu carro integrado às redes sociais, etc. É a criatividade.

DINHEIRO –Qual seria o futuro de invenções como essas? MEIRA – Há um processo de seleção. As que vão passar no crivo são aquelas que tiverem volume de aceitação e, consequentemente, de produção capaz de justificar a atividade industrial e comercial por trás delas. Todo o resto vira curiosidade.

DINHEIRO – Nesse contexto, pensar globalmente é fundamental. O Brasil avançou em seu processo de internacionalização, especialmente na área de tecnologia? MEIRA – O Brasil é grande demais para viver de commodity. Pense no caso do Chile. Há 15 anos , não se encontrava uma garrafa de vinho chileno na Europa. Hoje, você entra numa adega europeia chique e encontra produtos do Chile, alguns deles com preço de vinho europeu. Estão tentando fazer isso em Petrolina, em Pernambuco. Há garrafas que saem de lá pelo preço de R$ 80. Petrolina já descobriu que uma coisa é vender uva, outra é comercializar um produto sofisticado. Não há muito vinho brasileiro de R$ 80. E o que é isso? É agregação de valor, de percepção, marca e também de uma quantidade gigantesca de tecnologia no processo industrial. Mas com o objetivo de produzir com qualidade, porque não adianta me dizer que um produto é bom se ele não o for. E é muito mais difícil agregar tudo isso num computador, que não passa de uma lata.

DINHEIRO – O que vai diferenciar um computador é o software, não? MEIRA – Sim. Portanto, a única chance que o Brasil tem do ponto de vista competitivo para as próximas duas décadas – já que, no passado, não habilitamos as cadeias de valor de hardware para a competição de classe mundial – é avançar em dois aspectos. Primeiro: habilitar a cadeia de valor de hardware para daqui a 20 anos, tempo necessário para que os sistemas hoje estabelecidos fraquejem no Japão, China, Taiwan e em outros lugares. O Brasil precisa buscar negócios que tenham alcance global. Mas o que temos aqui? Todas as ações de política industrial feitas no País, nas últimas décadas, na área de hardware foram na direção de substituição de importações, mas esse negócio não funciona em certos mercados.

DINHEIRO – Qual é a próxima onda na qual o Brasil deve embarcar? MEIRA – A tecnologia do grafeno é uma delas, assim como novos tipos de energia e bateria. Ultravioleta extrema, para fazer litografia de circuitos, também. O problema é que não estamos apostando em nenhuma dessas coisas. E ficamos naquela história: como há um megarrombo na balança comercial, decidimos fazer umas fabriquetas de circuito integrado aqui, de baixa complexidade, para controle industrial. Mas fazer isso só para o mercado nacional provavelmente não é um bom negócio.

DINHEIRO – Por quê? MEIRA – Isso teria então de ser feito com subsídio pesado do governo ou com uma fábrica estatal, o que também não é uma boa alternativa. Não é sustentável no longo prazo, porque está provado que os negócios intensivos em hardware exigem, para dar certo no longo prazo, uma vertente de pesquisa e desenvolvimento turbinado com inovação e alto investimento privado de risco. O que vai ser exigido lá na frente é a capacidade de criar, empreender e investir. Enquanto isso, há algumas situações injustificáveis. Cria-se, por exemplo, um megamecanismo de incentivo para trazer a “fabricação da Apple” para o Brasil, com o preço do aparelho exatamente igual ao do importado. Ou seja, obtém-se subsídio público, pago por todos os contribuintes, para jogar na margem de lucro da Apple.

DINHEIRO – O sr. se refere ao projeto bilionário para a criação de novas fábricas da Foxconn no Brasil, não? MEIRA – É simplesmente uma falha estrutural do que são os investimentos nesses setores. O setor de hardware de alta sofisticação não é igual ao mercado de minério de ferro, de bauxita. Software é um mercado de conhecimento. É preciso criar certas commodities nessa área. E de que tipo? Educação de alta qualidade provida num número diverso o suficiente de lugares para haver uma quantidade de pessoas capazes de exprimir essa competência nos mercados internacionais. Só essa qualidade, porém, não funciona. A indústria de software, que é muito jovem, pois data do meio da década de 1970, só existe competentemente, salvo raríssimas exceções, quando o investimento empreendedor e a capacidade de tomada de risco são muito grandes. A única plataforma global de software que não é dos EUA é a SAP, da Alemanha. Não há outra, é um acaso ter havido isso lá. Isso só aconteceu porque um pessoal saiu da IBM alemã e pegou um vetor inteiro de competências da empresa, conseguindo assim se estruturar no mercado. Além de competência, contaram com o apoio de companhias alemãs espalhadas pelo mundo. Mas é a única plataforma. Todas as outras são americanas. E isso porque há toda uma cadeia de valor que passa pela formação de capital humano e sua conexão com o mercado, com os processos de investimentos e tomada de risco, fomento e forte subsídio governamental.

DINHEIRO – Pensar globalmente nunca foi uma característica brasileira. MEIRA – O maior problema do Brasil é justamente sempre olhar o próprio quintal. A solução é, obviamente, imitar o que os outros fazem – e muito bem –, que é perguntar: o que o mundo vai comprar? Em informática, tanto em hardware quanto em software e em serviços, esse pensamento é fundamental pelo seguinte: não há produtos locais de informática. Só os globais. À medida que o mundo se conecta com redes cada vez mais rápidas e de melhor qualidade, mais os produtos serão globais.

DINHEIRO – O que o Brasil deveria definir como prioridade para as próximas décadas, na área de tecnologia e inovação? MEIRA – Uma boa visão é definir como meta ser, nos próximos 25 anos, um dos cinco maiores fornecedores mundiais de software. Temos população, competência e mercado de partida para ter essa ambição. Pouco importa qual é o software, deixe as pessoas escolherem isso. Não há design governamental para software. Digo ainda mais: deveríamos ter, em dez anos, um, dois ou cinco provedores globais de software como serviço. O software está mudando completamente sua característica. Ele está se tornando um fluxo de dados e informações, que é bilhetado por uso. A eletricidade, por exemplo, é gerada aqui, mas não pode ser enviada para a Rússia, pois o custo de transmissão é muito alto. Já a “informaticidade”, que é a capacidade de transmitir, processar e controlar informação, pode ser feita no Recife e mandada para qualquer lugar do mundo.

DINHEIRO – Mas ainda há possibilidade de pleitear lugar de destaque no mercado de softwares, que já é dominado por titãs como Oracle, SAP e Amazon, entre outras? MEIRA – A história mostra que algumas das companhias que estão aí hoje podem estar vivendo o seu ocaso. Na prática, o Facebook tem cinco anos. Saiu do nada para ter um bilhão de usuários globais. O Facebook poderia ter sido feito em qualquer lugar do mundo, inclusive no Brasil. Antes, o próprio Orkut, o Twitter, a Amazon Web Services poderiam ter saído de qualquer país. Estamos falando de empresas que têm cerca de cinco anos. Os data centers da Apple, que provêm grande quantidade de conectividade global, são todos movidos a carvão mineral e óleo diesel. São os data center mais sujos do mundo. Temos a oportunidade no Brasil, com dezenas de gigawatts de energia eólica disponíveis, de conectar data centers brasileiros para prover informação e serviços de software para o mundo. Tudo isso montado em fazendas eólicas do interior do Nordeste. E o Brasil é um dos melhores lugares para fazer isso, inclusive porque podemos prover green bits, ou bites verdes. A matriz brasileira de energia elétrica é limpa em mais de 85%.

Fonte: Silvio Meira, fundador do Porto Digital, do Recife - Entrevista Por Clayton MELO - http://www.istoedinheiro.com.br